sexta-feira, 26 de julho de 2019

                                      O QUE ESTAMOS A FAZER AOS NOSSOS AVÓS?


Merendava eu numa confeitaria, quando o empregado me confidenciou que tudo fora  liquidado por uma senhora, que se encontrava no fundo do salão. Estupefacto ergui-me para ver quem era a senhora para lhe agradecer a generosidade, quando uma velhinha se dirigiu até mim.
Era uma antiga colega de trabalho. No curto diálogo que travei, fiquei a conhecer que ficara viúva.
Vivera meses de solidão, rodeada de tristes recordações.
Contaram-lhe que existiam religiosas que acolhiam idosas, cobrando parte  da pensão. Procurou e acabou por entrar numa dessas casas. Estava feliz. Tão feliz, que praticamente era uma delas.
Não que as irmãs a incentivasse mas sentia-se bem em participar em todas as devoções que faziam.
Mas nem todos os idosos têm igual sorte: ou porque a pensão é muito baixa, ou porque não têm outro remédio senão entrar num lar de fraca qualidade.
Uma senhora viúva que, vendo-se sem o carinho dos filhos, resolveu ir para uma residencial.Passado algum tempo, « comprou» o quarto, tendo para isso, vendido o apartamento em que vivia.
Decorridos meses, verificou que se tinha enganado. Não gostou do convívio, da comida, nem da forma como a tratavam. 
Decidiu sair; mas não lhe devolveram o dinheiro. Rapidamente verificou que perdera tudo o que possuía. Alugou então, um pequeno apartamento mobilado e está agora em pior circunstâncias,
 
do que antes.
Escolher um lar não é tarefa fácil, tanto mais que a maioria não tem possibilidade de voltar atrás, já que praticamente entrega tudo que tem à administração, ficando à mercê desta.
Para que assim não aconteça seria vantajoso, haver a possibilidade de transferência de residencial, sem despesa para o utente. Seria bom que as ordens religiosas que possuem grandes espaços, abrissem a troco de módicas quantias, as instalações a idosos. Seria rendimento para a Casa e uma obra de caridade. Outrora os avós eram figuras estimadas, imprescindíveis para a felicidade dos netos. Actualmente, ou por falta de espaço ou falta de tempo, os filhos atiram os pais para lares e residências, como eufemisticamente se apelidam os antigos asilos.
Receio que chegará o tempo em que a sociedade incentivará a eutanásia, para se livrar dos idosos de baixos recursos, do mesmo jeito que hoje matam o nascituro, porque os pais não podem cuidar dele e o Estado não quer encargos com sua educação.